Reflexo

De perto via seu reflexo perfeitamente bem, às vezes turvo quando o vento fresco batia nas águas em que se via. Via-se ali frente a frente consigo mesmo, seus olhos perdidos no fundo do mar, no fundo do seu Eu. quem era aquele que via refletido? Será que realmente refletia a si mesmo? Não sabia.
Por incrível que pareça, conseguia se enxergar melhor quando aquelas águas se moviam, assim mostrando alguém desfocado, bagunçado, uma perfeita distorção. Ele na verdade não era esse cabelo bagunçado, nem esse nariz que não condiz com o que gostaria de ter, mas que o transformava em uma definição. Ele não tinha definição. Seguindo a idéia de que “quem se define se limita” o ser humano era infindável de questões, podendo sim, ser muito limitado em si, mas para si era imensurável.
Enquanto as pessoas achavam que viam a si próprios e aos outros, na verdade viam apenas águas turvas daquele intenso mar da vida no qual ia e vinha carregando um turbilhão de sonhos, planos, sentimentos e ânsias que se mostravam apenas na superfície supérflua do seu Eu.
As pessoas são muito mais do que demonstram ser, do que pensam ser e até mesmo do que dizem ser; por mais arrogante que seja seu ego, ainda assim, seu ser era maior. Por mais pecaminoso, mais divino, por mais simples, mais complexo, por mais humano, branco, negro, alto, baixo, ruivo, moreno, mais indefinido.
O mar naquele momento, refletia a grandeza de si no ser humano, assim como ele – como ser humano – se via na grandeza de poder navegar sobre aquele imenso mar. Quão profundo eram ambos cada qual na sua forma de se pensar, via com seus olhos a imagem de um homem franzino apenas, mas com sua projeção nas questões da vida era maior e mais profundo do que todo aquele lugar.

2 comentários em “Reflexo

  1. Seus textos são muito bons. Nos levam a meditar.
    “…por mais arrogante que seja seu ego, ainda assim, seu ser era maior.” _Não cabe mais palavras.Parabéns!

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